Fonte: Cartooning for Peace
A questão do reconhecimento do Estado da Palestina emerge como um dos dilemas mais complexos e prementes na esfera das relações internacionais contemporâneas, enraizado em décadas de conflito e controvérsias no Médio Oriente.
Desde a fundação do Estado de Israel em 1948, passando pela declaração unilateral de independência da Palestina em 1988, até à sua admissão como Estado observador não membro na Organização das Nações Unidas, o reconhecimento da Palestina enquanto entidade soberana tem sido um ponto fulcral de divergência entre os interesses de Israel e as aspirações nacionais palestinianas.
A nível internacional, 139 dos 193 estados membros das Nações Unidas formalizaram o reconhecimento da Palestina como uma entidade estatal. Adicionalmente, em 2012, a Assembleia Geral das Nações Unidas concedeu à Palestina o estatuto de observador não membro, contudo, essa concessão não se traduziu em reconhecimento completo como membro de pleno direito. O estatuto de membro de estado exige a aprovação de pelo menos dois terços dos membros da Assembleia Geral das Nações Unidas e, pelo menos, nove dos 15 membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas, sem oposição dos cinco membros permanentes, um desafio que ainda não foi superado. Neste contexto, atualmente, o Estado da Palestina detém apenas a prerrogativa de participar como observador nas sessões da Assembleia Geral das Nações Unidas, não usufruindo, entretanto, do direito ao voto.
Os Estados Unidos da América membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas vetaram a adesão da Palestina à ONU. Robert Wood, representante norte-americano na Organização, anunciou uma proposta alternativa à entrada da Palestina como membro pleno, esta encontra-se em elaboração, visando a continuação da negociação para a libertação dos reféns, um pedido de cessar-fogo provisório e a condenação do grupo Hamas. Adicionalmente, uma maioria dos cidadãos americanos (55%) expressa a opinião de que os Estados Unidos devem participar ativamente nos esforços diplomáticos para encerrar o conflito armado. No entanto, existe uma inclinação por parte do público para que as
No que diz respeito à perspetiva dos Estados-Membros da União Europeia (UE) em relação ao reconhecimento do estado da Palestina, as perceções diferem entre os integrantes. Apenas quatro países da Europa Ocidental reconheceram a Palestina: Islândia, Malta, Chipre e Suécia. Apenas três deles (Malta, Chipre e Suécia) são membros da UE, sendo a Suécia o único estado que reconheceu a Palestina depois de ingressar na Organização. Ao todo, nove estados membros da UE reconheceram a Palestina, maioritariamente países da Europa Oriental.
A guerra que eclodiu a 7 de outubro de 2023, mudou drasticamente a posição internacional de Israel. A atual perceção global revela uma crescente crítica dirigida ao país, considerando os ataques consecutivos de Israel à faixa de Gaza. Este cenário sugere um potencial impulso renovado no sentido do reconhecimento do Estado Palestiniano. Alguns países da Europa Ocidental, como o caso da Espanha, consideram esta hipótese como uma opção viável.
No âmbito da política externa, a Espanha procura assumir um papel de liderança no quadro internacional, incentivando outros Estados-Membros da União Europeia a reconhecerem o Estado Palestiniano como independente. Uma pesquisa da Simple Logica publicada em janeiro pelo eldiario.es, identificou que 60,7% dos espanhóis condenaram a ofensiva israelita em Gaza e 57,9% concordavam com o apelo do governo espanhol por um cessar-fogo. O reconhecimento do Estado da Palestina por parte do país pode desencadear um movimento de reconhecimento generalizado por parte do continente Europeu e da Organização das Nações Unidas.
Historicamente, a sociedade espanhola sempre possuiu fortes ligações com as nações árabes. Pelo facto de Espanha não ter participado na 2ª Guerra Mundial, o país não detinha as mesmas obrigações morais em relação ao genocídio causado pelo Holocausto, e, por consequência no reconhecimento do estado de Israel.
A existência de grandes comunidades muçulmanas no país também pode ser considerada um dos agentes decisivos, em comparação com a pequena comunidade judaica existente em Espanha.
O recente ataque a membros da Organização humanitária de origem espanhola, World Central Kitchen, perpetrado pelas forças israelitas, também exerceu influência sob o governo espanhol no reconhecimento do Estado da Palestina, resultado da indignação da população espanhola pela insuficiente resposta de Israel.
Espanha prepara-se para o estabelecimento do reconhecimento diplomático da Palestina até julho de 2024. O Secretário de Estado realizou visitas à Irlanda, Noruega, Eslovénia e Bélgica com o intuito de mover esforços para um início de conciliação entre os países europeus, as visitas futuramente programadas à Arábia Saudita, Jordânia e Qatar fazem de Espanha um Estado agregador e decisivo no conflito e no apelo tanto ao cessar-fogo como ao reconhecimento da Palestina como Estado.
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