A República italiana assumiu pela sétima vez a presidência do G7, sendo esta uma grande oportunidade - e desafio - ao governo Meloni. Se por um lado Itália quer impulsionar sua agenda de política externa também através do G7, também é verdade que o governo italiano precisará de alguma flexibilidade para negociações com seus homólogos menos próximos: os franceses e os alemães.
O Group of 7 (G7), que um dia já foi Group of 8 quando a Rússia era um membro até sua expulsão em 2014 após a anexação da Criméia, é um grupo informal composto por sete grandes potências (não necessariamente as maiores potências em ordem decrescente), a saber: Itália, França, Alemanha, Reino Unido, Estados Unidos da América, Canadá e o Japão. O intuito deste grupo, cuja presidência é rotativa anualmente, é precisamente promover o diálogo entre seus membros a fim de coordenar políticas económicas e demais assuntos de relevância na cena internacional
Muito se questiona acerca da relevância deste grupo que por vezes é chamado “elitista” tendo em conta que já há muitos anos não convidou nenhuma outra potência como membros efetivos, como por exemplo a China ou a Índia, segunda e quinta maiores economias do mundo respetivamente. No entanto, deve-se ter em conta que o G7 nada mais é do que um grupo informal de países democráticos (sob a perspetiva ocidental) que buscam coordenar políticas em várias matérias, o que carece de entendimentos e compromissos que países como a China não necessariamente estão dispostos a cumprir, para além do fator óbvio de não ser uma democracia do tipo ocidental.
O facto de ser Giorgia Meloni a liderar a presidência é um caso particularmente interessante. Desde sua eleição, muitos governos, principalmente europeus, olhavam com reservas acerca do que viria a ser um governo de direita em Itália, tendo Giorgia Meloni surpreendido muitas vezes os seus maiores críticos. A política externa do atual governo italiano tem se pautado sobretudo por acordos internacionais e comerciais que favoreçam o mercado italiano, mas também tem se preocupado com o eixo UE-África, matéria que até então estava “monopolizada” pela França.
O G7 apresenta-se indubitavelmente como uma grande oportunidade de Itália dar prosseguimento não só a sua política externa, mas também apresentar-se com mais peso na cena internacional. E é precisamente isso que Giorgia Meloni tem feito. Desde quando assumiu a presidência do G7, Meloni já visitou três membros do G7, curiosamente, os mais distantes: Japão, Estados Unidos e o Canadá. O desafio enfrentado pela presidência italiana prende-se em chegar a um acordo sobre matérias já tratadas pelo G7 em 2023 sob presidência do Japão, nomeadamente sobre matérias ligadas a inteligência artificial e o reforço do apoio à Ucrânia. Para além disso, espera-se que seja tratado, em 2024, de questões relacionadas a segurança regional e global, como o alastramento da crise no Haiti, o conflito Israelo-palestiniano, a crise no Iémen e conflitos no Sahel.
O eixo africano terá novamente um grande protagonismo. Já em janeiro do presente ano, Meloni recebeu em Roma mais de 20 chefes de Estado e de Governo africanos, para além de instituições várias como a ONU, a Comissão Europeia, a União Africana e a Organização Mundial do Comércio. Ao que tudo indica, o plano italiano é reforçar as relações UE-África através de investimentos em diferentes setores no continente africano, obtendo em troca duas matérias caríssimas ao governo Meloni: uma melhor gerência da crise migratória e acordos energéticos. Este último já tem produzido efeitos desde o ano passado, tendo em conta que os custos de energia em Itália reduziram cerca de 15% desde o início do ano. A guerra na Ucrânia, por sua vez, nunca perdeu sua importância para o governo italiano: ainda em fevereiro, Meloni liderou conjuntamente com a presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen e o primeiro-ministro belga Alexander de Croo uma comitiva à Ucrânia, onde assinou um acordo de segurança entre Roma e Kyiv.
Curiosamente, ao fazer uma breve retrospectiva da última presidência italiana do G7, a época sob o comando do então primeiro-ministro Paolo Gentiloni, vê-se que algumas matérias como a crise migratória e problemas de ordem política e militar em África e no médio oriente mantém-se até hoje e embora ainda não se saiba exatamente quais serão todas as matérias de maior dificuldade a serem tratadas no G7 2024, no que depender de Giorgia Meloni, pode-se esperar novos acordos ambiciosos que muito contribuirão para emplacar Itália como uma voz de peso na política europeia e ocidental.
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