Brasil e Israel estabeleceram relações diplomáticas a 7 de fevereiro de 1949, contudo, estas possuem um grande historial já que remontam aos tempos coloniais, tendo em vista a multissecular presença judaica no Brasil, e, posteriormente, a intensa vinda de imigrantes judeus, nos séculos XIX e XX. Estima-se que a comunidade israelita no Brasil totalize entre 97 e 150 mil membros, enquanto que comunidade brasileira em Israel alcança cerca de 25 mil membros.
A crise diplomática entre Brasil e Israel tem origem numa série de eventos que fortemente afetam as relações bilaterais entre os dois países há alguns anos. Contudo, esta tensão tem crescido exponencialmente devido às declarações controversas feitas pelo presidente brasileiro, Lula da Silva, sobre a atual operação militar israelita em Gaza. Assim, os países passam pela sua maior crise diplomática desde o início da guerra.
Durante uma entrevista em Adis Abeba, na Etiópia, o presidente Lula afirmou que o conflito entre Israel contra o grupo terrorista Hamas em Gaza “não é uma guerra, mas um genocídio”, comparando a ação ao Holocausto. Reforçou também que Israel não obedece às decisões da Organização das Nações Unidas e defendeu a criação de um Estado palestiniano.
Após esta declaração, o primeiro-ministro israelita Benjamim Netanyahu afirmou que ao comparar a guerra de Israel ao Holocausto, o presidente brasileiro desonra a memória dos seis milhões de judeus assassinados pelos nazis, constituindo um grave ataque antissemita e ultrapassando limites morais. Assim, Netanyahu convidou o embaixador brasileiro em Israel, Francisco Meyer, a acompanhá-lo ao Museu do Holocausto, onde anunciou diante das câmaras que Lula era uma “persona non grata” em Israel até que se retrate, não sendo bem-vindo ao país. Esta designação é raramente aplicada a chefes de Estado, mas sim a diplomatas. A Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas de 1961 trata o assunto de maneira vaga. Não aponta prazos e medidas. Uma pessoa não se torna persona non grata imediatamente nem para sempre, mas a decisão fica nas mãos do país que declarou. No caso de Lula, Israel solicitou um pedido de desculpas do presidente para que eles retirem a declaração.
(Fonte Imagem: Observador)
Como resposta, o Brasil convocou também o seu embaixador no país, num gesto de insatisfação diplomática. Segundo algumas fontes, existe uma possibilidade de o governo de Lula da Silva expulsar o embaixador israelita do país, uma ação considerada drástica e indesejável por muitos cidadãos.
Apesar desta tensão se revelar mais intensa ultimamente, a crise diplomática entre os países apresenta já um grande historial, desde que o Brasil adotou uma postura de apoio aos direitos palestinianos e à solução da criação de dois estados para o conflito Israel-Palestina, chegando mesmo até a apoiar o reconhecimento da Palestina como estado independente.
Para além disto, em 2019, quando o então presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, anunciou a sua intenção de transferir a embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, levou a uma reação negativa por parte das autoridades israelitas, aumentando igualmente a tensão nas relações bilaterais entre os dois países.
Estes eventos contribuíram para um período de tensão e deterioração nas relações diplomáticas entre o Brasil e Israel. No entanto, diversos especialistas afirmam que estes atritos não afetarão o comércio e outros investimentos entre os dois países. Apesar de possivelmente existir uma rutura diplomática, não implica que ocorra necessariamente uma rutura comercial. Contudo, do ponto de vista da política externa brasileira, a tensão entre o Brasil e Israel tem apresentado consequências negativas para a imagem do país e para o próprio governo internamente.
Todos estes eventos políticos e ideológicos têm vindo a contribuir para um relacionamento bilateral intenso entre Brasil e Israel. Assim, a diplomacia entre os dois países continua a ser influenciada por estas questões e pelas prioridades geopolíticas de ambos, podendo emergir em novas crises no futuro.
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