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O Caminho do Elefante: Política Externa da Índia de Modi

Foto do escritor: Tiago FerreiraTiago Ferreira


Desde a sua independência em 1947, a Índia tem procurado manter uma posição relevante no sistema internacional. Um equilíbrio foi assumido entre o bloco americano e o bloco soviético enquanto posicionava-se com um papel de liderança dos países não alinhados, conseguindo reconhecimento e prestígio internacional entre os seus pares. O fim da Guerra Fria e a derrota soviética levaram a uma mudança na política externa indiana, que reforçou a cooperação com países como os Estados Unidos da América e China, e com organizações supranacionais e internacionais como a União Europeia e a União Africana.


Sob a liderança de Narendra Modi, a Índia tem sido mais assertiva no sistema internacional e com pretensões de ser mais ativa internacionalmente, trabalhando com o bloco americano e o bloco de liderança chinesa, com a sua diplomacia, desde 2014, descrita como fast-track pela antiga Ministra das Relações Exteriores Sushma Swaraj, explicando que a sua ação deverá ser proativa, forte e sensível. Retoma, também, a Paradiplomacia, em que o Estado tem a ajuda de membros de menor dimensão que o integram como regiões ou cidades que procuram realizar acordos bilaterais com outras unidades equivalentes, podendo-se exemplificar com a geminação de estados indianos como o Gujarat que estabeleceu relações com Guangdong, na China, ou Califórnia, nos EUA. Entre as suas políticas, contamos com as políticas Neighbourhood First, Act East e a Look West, que demonstram que a Índia quer assegurar o seu lugar no panorama regional e internacional.


Com estas políticas, a Índia de Modi tem procurado estabelecer relações diplomáticas mais estreitas com os restantes países vizinhos – como o Nepal e o Bangladesh - e cooperar em campos da economia, defesa ou ambiente, materializando-se em alguns acordos como a troca de enclaves indianos e bangladeshi, concluído em 2015.

Especial atenção tem sido dada e podemos ver com a primeira visita como primeiro-ministro a ser ao Butão.


Esta importância de exercer a sua influência em zonas que considera ser de sua responsabilidade, como o Subcontinente Indiano e o Oceano Índico, demonstra-se não só nesta política como no Projeto Mausam, um projeto começado que procura reviver as ligações marítimas e culturais com os restantes países do Índico e renovar cada vez mais a sua cooperação.


A Índia tem, também, procurado aumentar a sua presença e influência no Médio Oriente pois é a origem de uma boa parte das importações indianas de petróleo, além de albergar uma larga diáspora indiana, que envia largas remessas, constituindo 12% da percentagem global e 3,40% do PIB indiano.


A política Look West tem procurado assegurar os seus interesses nos domínios do comércio, da segurança energética e da Índia como um parceiro fiável na segurança do Médio Oriente, disposta a agir quando necessário. Como exemplo, temos a Operação Raahat, em 2015, de resgate e evacuação de cidadãos indianos e estrangeiros no Iémen, completada com sucesso.


No continente africano, a Índia dispõe de uma reputação favorável com a sua ação diplomática na formação do Movimento Não-Alinhado e como líder do Sul Global, reforçado, recentemente, na sua procura de forjar o seu próprio caminho no panorama internacional, trabalhando com todos e não se deixando ditar por ninguém.


Estas boas relações têm se perpetuado de várias formas como no Fórum Cimeira Índia-África, organizado pela Índia, demonstrando a proximidade com o continente e procurando cimentar a posição da Índia como líder do Sul Global que procura reformar o sistema internacional.

A liderança indiana do G20, em 2023, também foi relevante, quando anunciou a presença permanente da União Africana no grupo.


Os bilateralismos com África têm sido reforçados com a Índia a figurar no top 5 de maiores investidores em África, totalizando em $74 mil milhões, além dos exercícios navais MILAN, realizados de 2 em 2 anos e com alta presença de países africanos, 16 entre mais de 50 países confirmados na edição de 2024.



Fonte: Gulf News


Finalmente, de forma sucinta, a nível internacional, a Índia tem pautado por uma posição de equilíbrio entre a nova bipolarização entre o bloco do Ocidente e o bloco do Este, cooperando com ambos enquanto tenta alcançar a sua própria posição sob o Sol. Para tal, o país participa ativamente nos BRICS, uma organização intergovernamental que procura reformar a atual ordem internacional, em organizações de liderança chinesa como a Organização para Cooperação de Xangai, vista como a contraparte para a OTAN/NATO, e, economicamente, as trocas comerciais com os BRICS amontoaram a $100 mil milhões, com os 4 originais a serem dos maiores parceiros comerciais. 


No lado americano e europeu, a Índia tem assinado e renovado acordos de âmbitos variados, como económico ou militar.

O Diálogo de Segurança Quadrilateral, juntamente com os EUA, o Japão e a Austrália, conhecido também por Quad, é um deles, de âmbito militar e diplomático, como resposta ao crescente poder económico e militar chinês, procurando garantir um “Indo-Pacífico livre e aberto” e “Mares da China do Sul e Leste regrados e ordenados”

O projeto India-Middle East-Europe Economic Corridor é outro indicador da cooperação com o Ocidente, esperando-se trazer mais conectividade e prosperidade económica enquanto serve de alternativa à Belt and Road Initiative chinesa.


Assim, conseguimos ver que a Índia de Modi mantêm algumas das suas linhas originais, adicionando acertar o domínio da sua esfera de influência e expandir-se em outros lados enquanto procura assumir um papel mais relevante, internacionalmente.

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