Como as matrioskas a Somália continua a dividir se, havendo agora o risco de deixar de existir e tornar-se em 3 países. Somália, Somaliland e Puntland.
Como consequência das divisões territoriais do colonialismo, na Somália habitam diversos grupos étnicos, de forma a tentar permitir uma melhor coabitação o pais está dividido em 7 estados sub-federais. Apesar da Somália reclamar soberania sobre Somaliland, este declarou independência em 1991, tendo uma constituição própria e sendo uma região relativamente estável, ao contrário do resto do pais que está submergido em diversas guerras civis. Apesar da falta de reconhecimento internacional, a Somaliland tem o seu próprio governo, moeda e serviços de segurança e no inicio do ano assinou um acordo com a Etiópia para que esta possa utilizar um dos seus portos, em troca e Etiópia reconheceu a Somaliland como um estado soberano.
Quanto à região de Puntland, esta até hoje não procurava independência, mas sim uma maior autonomia. Disputa território com Somaliland levando a conflitos entre as duas regiões, tendo mesmo surgido um novo ator no território disputado, Kathumo, e este ator reclama também a sua independência na região, aparecendo mais uma matrioska. Puntland é também a região mais estável da Somália, mas desde a eleição do atual presidente Hassan Sheikh, que subiu ao poder com vontade de emendar a constituição e de concentrar o poder no governo central, as relações entre Puntland e a Somália pioraram e o presidente é até contra a posição de um primeiro ministro e só recentemente elegeu um ministro dos negócios estrangeiros.
No mês de março foram aprovadas emendas na constituição que atribuem ainda mais poder ao presidente e retirando poderes ao membros do parlamento, as emendas criam uma mudança no sistema onde este deixa de ser um sistema parlamentar a passa a ser mais próximo de um sistema presidencial retirando até algum soberania dos estados. Apesar do apoio da maioria dos deputados, estados como o de Puntland reclamam que não foram consultados e por essa razão Puntland decidiu deixar de reconhecer a autoridade do governo federal e afirma que o presidente perdeu a sua legitimidade constitucional assim como que Puntland terá o poder de um governo independente até que haja um acordo quanto ao sistema de governo federal e uma constituição aceite pela população Somália através de um referendo em que Puntland fará parte, ou seja Puntland considera-se a si própria um estado soberano. Neste momento a Matrioska da Somália tem 3 estados dentro dela, Somaliland, Puntland e o que resta da Somália.
Esta decisão de Puntland pode ser incentivada por dois fatores. O primeiro é o acordo entre a Somaliland e a Etiópia, que demonstra que mesmo sem apoio internacional estados autoproclamados independentes conseguem prosperar. O segundo é o insurgência do grupo terrorista Al-Shabaab. Nos últimos anos o estado da Somália tem estado em guerra com Al-Shabaab, esta guerra acontece essencialmente no sul do pais, havendo assim uma paz em Puntland que não se vê no resto do pais fazendo a região pensar se não seria melhor seguirem o seu próprio caminho visto que a guerra não tem fim à vista.
Apesar de todas as dificuldades que a Somália tem enfrentado nos últimos anos, finalmente parecia existir a possibilidade de progresso, sendo que no final de 2023 a Somália entrou na Comunidade de Africa do Este, na mesma altura as Nações Unidas levantaram um embargo de armas com 30 anos e também no fim do ano obteve um alivio da divida por parte do IMF, criando assim esperança para o futuro do pais. Mas se Puntland decidir tornar-se verdadeiramente um estado independente, esta ação pode vir a ditar a separação definitiva das matrioskas e o fim da Somália como um estado unificado.
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