top of page

Japão e Coreia do Sul - a cooperação com visão de futuro que é ainda marcada pelo passado

Foto do escritor: Filipa AgostinhoFilipa Agostinho

Atualizado: 25 de abr. de 2024

Os valores do Japão e da Coreia do Sul estão de um modo geral alinhados, a par com isso ambos os Estados são regimes democráticos e têm ameaças comuns à respetiva segurança nacional. Foi esta preocupação com a segurança que levou à existência de uma relação de cooperação, que embora parecesse óbvia dada a proximidade geográfica e normativa dos Estados, não apresentava viabilidade até então, pois não obstante o facto de o Japão e a Coreia do Sul terem relações diplomáticas estes Estados partilham um passado conturbado que ainda molda o seu relacionamento bilateral.


Fonte da imagem : The Japan Times


De 1910 a 1945, o Japão ocupou a  Península da Coreia, tendo inclusivamente submetido a população residente a trabalho forçado, apesar destes atritos, em 1965, o Japão e a Coreia do Sul assinaram um tratado por via do qual estabeleceram relações diplomáticas. Da perspetiva nipónica toda a tensão ficou resolvida com este tratado, no entanto a verdade é que o passado não foi apagado e estas questões moldam ainda, nos dias de hoje, as relações bilaterais entre a Coreia do Sul e o Japão.


A par com o passado colonial japonês que ainda marca os sul-coreanos e consequentemente a relação entre os 2 Estados, existe ainda uma disputa referente às ilhas denominadas de Dokdo pela Coreia do Sul e de Takeshima pelo Japão. Ambos os Estados proclamam a soberania face a estas ilhas, que embora sejam de reduzida dimensão são disputadas há cerca de 300 anos e além do atrito que geram, não há uma solução em vista.


Foi em 2023, que pela primeira vez em 12 anos o Primeiro-Ministro Sul-coreano realizou uma visita histórica oficial a Tóquio, nesta visita reuniu com o Presidente Nipónico e deste modo os dois líderes acordaram não só reavivar as relações diplomáticas como algumas medidas que visam sobretudo aproximar os dois Estados, de forma a que possam unir esforços e aliar-se para fazer face à iminente ameaça que representam o despertar em termos militares da República Popular da China, a beligerância Norte-Coreana e a agressão imperialista russa. Pois individualmente os Estados não conseguiriam dissuadir estas ameaças provenientes dos seus vizinhos, sendo imprescindível que cooperem.


Importa mencionar que no primeiro dia em que os líderes do Japão e da Coreia do Sul se reuniram, foram atirados mísseis pela Coreia do Norte, uma prática que acontece com alguma frequência como forma do país Norte-Coreano recordar os seus contendores do seu poder nuclear. A Coreia do Norte percecionou esta reaproximação entre Seoul e Tóquio como algo orquestrado pelos Estados Unidos da América, além de considerar que o Japão pretende reforçar as suas capacidades de defesa apenas por ter sido pressionado por Washington.


Tanto o Japão como a Coreia do Sul são aliados dos Estados Unidos da América, sendo também do interesse Norte-americano que os 2 Estados formem uma aliança, na medida em que Washington tem uma rivalidade com Pequim e estes primeiros encontram-se no meio desta disputa tanto em termos geográficos como económicos. Assim a reconciliação entre o Japão e a Coreia do Sul é do interesse direto norte-americano, fazendo mesmo parte da estratégia de Washington para conter a influência e o expansionismo chinês. Importa mencionar que o estreitamento das relações entre o Japão e a Coreia do Sul levou a que se institucionalizasse uma cooperação trilateral de ambos os Estados com os Estados Unidos da América.


Da mesma forma que Washington vê no reforço da relação bilateral nipónico-Sul-Coreana uma forma de fortalecer a sua posição, a República Popular da China também entende a ameaça que é uma cooperação estreita entre os seus vizinhos, pelo que tem procurado dividi-los. Exemplo disso foi o convite que endereçou ao Presidente Sul-Coreano, em 2015, para participar no desfile militar, com vista a instrumentalizar o período colonialista nipónico como forma de fomentar o divisionismo entre os 2 Estados que podem compreender uma forte ameaça à República Popular da China caso se aliem.


Importa salientar que a reconciliação foi conseguida apenas com as lideranças de Yoon Suk-yeoul e de Kishida Fumio, na Coreia do Sul e no Japão respetivamente, motivo pelo qual existe a possibilidade de que com diferentes lideranças esta cooperação possa ser comprometida, até porque o partido liberal sul-coreano, que atualmente se encontra na oposição, tem como uma das suas principais bandeiras a procura por justiça face aos atos cometidos no passado pelo Japão contra a Coreia do Sul. Assim é possível depreender que a cooperação instituída é bastante personalista e não tem ainda as bases necessárias para que consiga fazer face de forma eficaz às ameaças presentes na cena internacional e ser orientada para o futuro como pretendido por ambos os líderes carecendo de uma base mais sólida.


11 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page