Apesar da atual fragilidade do Irão, este, num movimento para salvar os seus peões, avança com a sua rainha no jogo de xadrez do Médio Oriente(MO).
No MO, o Irão combate três guerras por procuração, utilizando os Hutis, Hezbollah e o Hamas, os peões, para atacar e fragilizar os inimigos (Israel e Estados Unidos), poupando recursos humanos. Mas, é necessário investir nestes grupos e, neste momento, o investimento parece estar em perigo, havendo o risco do Irão perder os seus peões.
Na Palestina, Israel continua incessantemente com os bombardeamentos, matando milhares de vidas inocentes e pondo em causa a existência do povo palestiniano, e do Hamas. O Hezbollah, no Líbano, reagiu aos bombardeamentos israelitas na Palestina, bombardeando Israel. Este retaliou e segue agora também uma série de assassinatos direcionados a comandantes do Hezbollah, aumentando o risco de que o conflito se alastre para o Líbano. Atualmente, o exército israelita já faz treinos de simulações de uma guerra no Líbano. O Irão vê agora o peão Hezbollah também em perigo.
Dos três peões, o último a movimentar-se foram os Hutis. Os Hutis encontram-se no Iémen e controlam a parte oeste do país, incluindo a sua capital, Saná. Contribuindo para a causa palestiniana, estes bloquearam o Mar Vermelho, atacando qualquer barco com relações a Israel, cortando o acesso ao Canal do Suez. Esta é a rota mais rápida entre a Ásia e a Europa, onde passa cerca de 12% do volume total de comércio mundial, assim como uma grande parte da energia proveniente do Médio Oriente com destino à Europa. Este bloqueio compromete a estabilidade do comércio global e força o desvio dos cargueiros pela única rota possível, o Cabo da Boa Esperança. Agora, de Singapura até à Europa, em vez de a viagem ter 8.500 milhas náuticas, passa para 11.800, um aumento significativo que acrescenta entre 7 a 10 dias à viagem, e os custos da mesma. Este aumento irá acabar por afetar os preços dos produtos transportados pelos cargueiros.
Para proteger os barcos que pretendem passar pelo Mar-Vermelho, os Estados Unidos formaram uma coligação de países como o Reino Unido, Austrália, Canadá, Alemanha e Japão, sendo mesmo enviado um porta-aviões para a região. Desde janeiro, a Casa Branca avisa os Hutis que, se continuarem com a destabilização do comércio mundial, vão ser responsabilizados e sofrer consequências. Devido à continuação, os EUA, em conjunto com o Reino Unido, acabaram por bombardear os Hutis. O terceiro peão do Irão também está em perigo.
O Rei, ao ver as suas peças em perigo e em risco de as perder e de ver a sua influência no tabuleiro diminuída, decide mover a rainha, a Guarda Revolucionária Iraniana(GR). A GR bombardeou o Paquistão, Síria e Iraque, tendo como alvo o Estado Islâmico e outros terroristas, para “demonstrar os seus músculos” e vingar o ataque terrorista que o Estado Islâmico perpetrou no país, nas celebrações da morte do comandante Qassam Salomani, matando pelo menos 91 pessoas e ferindo perto de 300. Mas houve também um outro alvo, Israel, na região Curda do Iraque. O Irão bombardeou alvos designados como quartéis-generais da Mossad. O Paquistão não ficou quieto, considerou os bombardeamentos no seu pais uma violação da sua soberania, e decidiram também eles bombardear o Irão com o pretexto de estarem a atacar um grupo terrorista separatista da região de Baluchistão, mas foi retaliação assim como uma forma de o Paquistão “demonstrar os seus músculos”. O Irão demonstra assim que não continuará passivo perante tudo o que se passa à sua volta e perante o perigo em que os seus peões se encontram, arriscando um alargamento do conflito. Mas o Irão não é o que aparenta.
O Irão atingiu o pico do seu PIB em 2011, com 625 mil milhões de dólares. Em 2023, era de 366 mil milhões de dólares, uma descida de 41%. O PIB per capita é de 4.23 mil dólares, estando apenas na posição 122 do mundo. Em dezembro de 2023, a inflação era de 44%, havendo uma previsão de 25% do governo iraniano e alguns produtos, como a carne, tiveram uma inflação de 95%. O rial iraniano nunca foi uma moeda forte, mas vem a piorar. Em 2010, 1 rial equivalia a 0,000079 euros. Hoje, equivale a 0,000022 euros, desvalorizando 70%.
Atualmente, 91% das exportações de petróleo vão para a China, que paga em yuan. Devido ao isolamento do Irão, provocado pelas sanções económicas de vários estados, falta ao Irão moeda estrangeira. Tendo unicamente o yuan, o Irão é forçado a comprar no mercado chinês. A China aproveita-se desta situação, vendendo os seus produtos mais caros ao Irão do que aos seus vizinhos no Médio Oriente.
A população está revoltada com a situação económica do país. O Irão encontra-se numa crise profunda e está nas mãos da China. Devido a todas estas circunstâncias, seria complicado para o Irão manter-se e estar envolvido num conflito direto e alargado no Médio Oriente. Este também teria de ter cuidado na forma como as suas ações podem afetar a China.
Existe, assim, um rei fragilizado que decidiu mover a rainha para apoiar os seus peões. Mas, com poucas peças em jogo e com peças que não pode mover sem pôr em causa a sua segurança, o movimento da rainha pode contribuir para um xeque-mate mais acelerado do seu rei.
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