O continente africano tem sido um território crucial para a política externa da China desde o fim da guerra civil chinesa, em 1947: o país asiático apoiou vários movimentos de libertação africana durante o período da Guerra Fria e todos os ministros dos Negócios Estrangeiros chineses visitam, há 20 anos, vários países africanos anualmente, “as relações China-África são o alicerce da política externa da China”.
Desta forma, observa-se que a China tem empreendido uma infrastructure diplomacy, que transforma as relações sino-africanas num projeto de grande escala no que toca a projetos grandiosos e modernizadores em África, através da construção de grandes edifícios governamentais: no início do ano passado a China inaugurou a sede do Centro Africano de Controlo e Prevenção de doenças na Etiópia, além de ter “oferecido” a construção de novos edifícios parlamentares em Moçambique, no Lesoto e na Guiné-Bissau. Estamos perante uma estratégia chinesa de investimento de obtenção da boa vontade e necessidade africanas para reforçar a sua posição global e apoio ao Partido Comunista Chinês.
Apesar da dimensão do continente africano, é no Coração de África que encontramos relações complexas naquele que é o segundo maior país africano e um dos países com mais abundância em recursos minerais do mundo.
A República Democrática do Congo (RDC) nasce oficialmente em 1960, após ganhar independência da Bélgica que, com o rei Leopoldo II, enfrentou um dos períodos mais escuros do colonialismo durante o século XIX. Com mais de 115 milhões de população, o país é rico em diamantes, cobre e cobalto, um componente essencial para a produção de baterias utilizadas em veículos e gadgets eletrónicos, e é casa de uma das maiores reservas florestais africanas. Não obstante, o país está marcado pelo conflito armado, um dos mais prolongados do mundo, que criou uma das maiores crises humanitárias globalmente.
Neste seio, surgem as relações bilaterais RDCongo-China em 1972, nas quais o governo chinês faz uma série de donativos ao novo aliado, passando por oferecer um instituto agrónomo, uma fábrica de açúcar e até a construção da Assembleia Nacional da RDC.
Hoje em dia, as relações sino-congolesas representam uma grande transformação quando se comparam com as relações Ocidente-RDC, já que, para a China, existe um maior aproveitamento económico em detrimento da política, pois o país asiático assume uma postura de investimento económico maciço, baseado na construção de infraestruturas e na extração de minério, sem se olhar a qualquer tipo de condicionamento político. Assim, a aliança entre estes dois países é feita sob pretexto win-win, pois ambos têm bens que trocam entre si e com objetivos claros.
Não obstante a tudo isto, a RDC, como mencionado, enfrenta uma situação interna de profunda fraqueza a nível humano, institucional e estrutural, que têm minado o desenvolvimento do país e perpetuado a pobreza e insegurança, sendo um forte sintoma de um estado falhado e de um governo fraco e corrupto. Isto significa que a RDCongo enfrenta fortes fragilidades no que toca ao aproveitamento do investimento chinês no país: afinal, as mega-estruturas construídas pela China precisam de um estado para as manter e, para os investimentos adquirirem um verdadeiro significado positivo para a população congolesa, tem que existir uma avaliação de como o país está a avançar relativamente à resolução do conflito interno e à superação de uma governação estruturalmente inadequada, questões que a China não tem ajudado a RDC a resolver, muito pelo contrário, já que as minas de exploração cobalto chinesas no Congo são responsáveis pela destruição de aldeias inteiras e os cidadãos estão a ser despejados à força ou ameaçados para abandonarem as suas casas.
A parceria entre a RDC e a China oferece oportunidades, mas também suscita preocupações sobre os impactos sociais e ambientais, além das falhas na abordagem dos desafios internos da RDC, como conflitos prolongados e má governança. Assim, é crucial implementar medidas que promovam a paz e, abordando as preocupações legítimas da população local para garantir que a parceria beneficie verdadeiramente a maioria dos congoleses e que se verifique, efetivamente, uma parceria win-win.
Bibliografia adicional
Kabemba, C. (2016). China-Democratic Republic of Congo Relations: From a Beneficial to a Developmental Cooperation. African Studies Quarterly, 16(3–4), 73–88. http://www.africa.ufl.edu/asq/v16/v16i3-4a6.pdf
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