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Hungria de Orbán: lições de um equilibrista de alto risco

Foto do escritor: Sara MartinsSara Martins

Atualizado: 21 de mar. de 2024

A emergência do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, em fevereiro de 2022, levou a Hungria a enfrentar um cenário, ainda mais controverso a nível diplomático.


A posição da Hungria em relação ao conflito Rússia-Ucrânia tem sido alvo de debate no palco internacional, em particular na União Europeia. Desde o seu início, a Hungria tem demonstrado uma postura ambígua, influenciada em grande parte, pelo atual Primeiro-Ministro húngaro, Viktor Orbán.



Fonte: BBC Brasil


O líder húngaro confronta-se com uma dualidade antagónica de interesses.


Como Estado-Membro da União Europeia e da NATO, a Hungria está obrigada a cumprir com as normas impostas pelas Organizações, no entanto, a posição geopolítica, os fatores económicos e interesses energéticos subjugam-no ao poder russo.


Atualmente, a Hungria continua a depender significativamente do fornecimento de energia russo. O país sem litoral, obtém cerca de 80% das importações de petróleo bruto e cerca de 80-85% do seu gás na Rússia. A Gazprom, empresa estatal russa e a maior exportadora de gás natural do mundo, é um importante fornecedor de gás para o país. Assim, com a não imposição de sanções às importações de gás russo (via gasoduto) por parte da União Europeia, a Hungria suplantou o previamente acordado com a Rússia e tem recebido volumes adicionais das matérias-primas.


Líderes ocidentais acusaram o Primeiro-Ministro húngaro de financiamento do conflito russo-ucraniano, através da utilização do gás fornecido pela empresa russa Gazprom. Esta dependência energética, acaba por instituir uma forte ligação e cooperação entre os dois países.


Desde o início do conflito, que o líder húngaro já conseguiu vetar diversos empréstimos da UE destinados à ajuda financeira da Ucrânia, incluindo o mais recente empréstimo proposto de 50 mil milhões de euros. Para Viktor Orbán era impensável que os Estados-Membros contraíssem um empréstimo conjunto para ajudar a financiar a Ucrânia, não obstante, o governo húngaro, no início de 2024 acabou por ceder, aceitando as condições, mas propondo uma entrega dividida em frações anuais, com o intuito de serem debatidas anualmente. Esta ação levanta questões pertinentes sobre a solidariedade europeia húngara e a relação bilateral entre a Hungria e a Rússia.


Orbán em conjunto com o seu governo tem demonstrado uma posição indefinida na condenação da agressão russa e relativamente à adesão da Ucrânia à União Europeia, o Primeiro-Ministro não tem dúvidas de que a entrada do país seria um desastre, não só para toda a Europa, mas para a Hungria e para o seu setor agrário, que detém um nível considerável de exportações para o mercado europeu de alguns cereais como o trigo ou a cevada.



A guerra de Putin é a mais recente e grave expressão da sua influência negativa nos estados vizinhos ou ex-soviéticos. O modelo político aplicado por Viktor Orbán também passa, sem surpresa, segundo a Freedom House, apenas por “parcialmente livre”.


Segundo a Organização, apesar da existência de meios de comunicação privados alinhados com a oposição ao partido Fidesz, a media nacional, regional e local é cada vez mais controlada por meios de comunicação pró-governo, com o intuito de difamar os oponentes políticos, destacar falsas acusações e patrocinar as ações do governo. Os órgãos de comunicação social de serviço público têm também apresentado desinformação e propaganda da guerra russa desde a invasão da Ucrânia, que, por conseguinte, tem suscitado críticas e preocupações pela comunidade internacional.


Recentemente Viktor Orbán, foi o primeiro dirigente de um Estado-Membro da União Europeia a encontrar-se com Vladimir Putin na capital chinesa desde o começo do conflito armado contra a Ucrânia. Os acordos comerciais do Fórum para a Cooperação Internacional, juntaram os dois líderes, que debateram o acesso da Hungria à energia russa. Orbán afirmou ao líder russo que nunca tinha pretendido confrontar-se com o país e que a Hungria sempre desejou expandir os seus contactos com a Rússia. Esta afirmação não só choca a comunidade europeia, bem como permite a Putin um elo de ligação ao Ocidente. Este encontro foi alvo de críticas de vários dirigentes como a primeira-ministra da Estónia ou o embaixador norte-americano na Hungria, David Pressman.


Com valores comuns bem assentes como a liberdade, democracia, igualdade, Estado de Direito, promoção da paz e estabilidade, a União Europeia não pode permitir a quebra dos seus pilares. A Hungria encontra-se numa posição delicada entre dois polos de influência e as suas ações, dirigidas pelo seu líder Viktor Orbán podem levar a uma desacreditação das instituições europeias onde a Hungria se insere. A questão que se coloca é: até onde a Hungria está disposta a ir, e por quanto tempo as instituições ocidentais estarão prontas para aceitar o comportamento húngaro?

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