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Frente Unida: A Aliança Trilateral emergente dos EUA, Japão e Filipinas

Foto do escritor: Nicole GuerreiroNicole Guerreiro


Recentemente, os crescentes desafios de segurança na região Indo-Pacífico, nomeadamente as tensões no Estreito de Taiwan e no Mar da China Meridional, têm sido bastante discutidos pelos vários líderes mundiais. É neste cenário, que o Presidente dos EUA, Joe Biden, o Presidente das Filipinas, Ferdinand Marcos Jr. e o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, reiteraram o seu compromisso comum com uma ordem indo-pacífica e internacional livre e aberta, baseada no direito internacional, dando assim, caminho para o surgimento de uma nova aliança entre o três.

Durante o mês de abril, Biden teve várias conversações individuais com Kishida, onde reconheceu a crescente influência de Tóquio no cenário global e definiu estratégias de cooperação entre os dois países. A primeira cimeira entre os EUA, o Japão e as Filipinas ocorreu a 11 de abril, numa altura em que os conflitos entre as forças filipinas e chinesas se intensificam no Mar Meridional da China e em que os Estados Unidos, o Japão e a Coreia do Sul estão a reforçar a sua cooperação em termos de defesa. Durante a cimeira, os três países planearam realizar um exercício trilateral da guarda costeira nas águas filipinas e, anunciaram que, pela primeira vez, tanto as forças filipinas como as japonesas embarcarão num navio da Guarda Costeira dos EUA, no Indo-Pacífico, este ano. Além disso, anunciaram também planos para aprofundar a cooperação cibernética, num momento em que os sistemas governamentais filipinos têm sido alvos de hackers chineses.  


O Presidente das Filipinas, Ferdinand Marcos Jr., o Presidente dos EUA, Joe Biden, e o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, na cimeira de abril de 2024 em Washington, D.C. Fonte: Reuters

As relações entre os três países transformaram-se após a II Guerra Mundial, com os EUA a assumir um papel de liderança, nomeadamente após a assinatura do Tratado de Segurança Mútua EUA-Japão, em 1951, e do Tratado de Defesa Mútua EUA-Filipinas, também em 1951. Estes dois últimos países aprofundaram a sua cooperação na defesa desde que Ferdinand Marcos Jr. assumiu a presidência, em 2022. As Filipinas são uma das economias do Sudeste Asiático com um crescimento mais acelerado, mantendo uma forte relação comercial e de investimento com os EUA. Em 2022, os EUA importaram cerca de 15.8% do total das exportações filipinas, traduzindo-se num valor de 12.5 mil milhões de dólares. 

O Japão também tem-se envolvido cada vez mais economicamente com Manila, sendo o segundo maior destino das exportações filipinas. Para Washington, é fundamental concretizar a sua estratégia Indo-Pacífico, reconhecendo a crescente importância económica e militar da região. Por outro lado, o Japão encara esta aliança como uma oportunidade para expandir o seu papel de segurança, enquanto que as Filipinas procuram equilibrar-se contra as reivindicações marítimas no Mar da China Meridional. Ao contrário dos seus vizinhos da Associação da Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), as Filipinas têm-se alinhado cada vez mais com o Ocidente sobre a questão da China, apoiando abertamente a aliança entre a Austrália, Reino Unido e Estados Unidos (AUKUS).

As tensões entre as Filipinas e a China intensificaram-se nos últimos tempos, concentrando-se em Second Thomas Shoal, uma área de recife localizada a cerca de 200km da ilha filipina de Palawan, no Mar da China Meridional. Em 1999, as Filipinas encalharam no recife, um navio da II Guerra Mundial, o BRP Sierra Madre, como forma de reivindicar o território pertencente à sua zona económica exclusiva. No entanto, a China também reivindica o Second Thomas Shoal como parte do seu território, de acordo com a “linha dos nove traços”.  Isto resultou num aumento de um número de confrontos por parte da China aos navios e barcos filipinos, com a utilização de canhões de água e de luz laser de nível militar.


Navio da Guarda Costeira chinesa dispara canhão de água contra um barco filipino Fonte: Reuters

Apesar desta aliança ter o potencial de introduzir novas dinâmicas na geopolítica regional, fica difícil dizer até onde Biden, Marcos e Kishida podem chegar para institucionalizar a relação entre os três, isto devido às eleições norte-americanas deste ano e à inclinação de Trump para renovar o sistema de segurança americano por completo. Além disso, as eleições nas Filipinas, em 2028, poderão resultar num término dos esforços de Marcos para reforçar parcerias com os EUA, o Japão e também com a EU e a Austrália. Sendo assim, e à sombra da China, o trio tem poucas alternativas a não ser expandir e reforçar a sua aliança, como aconteceu no dia 07 de abril, quando as Filipinas, o Japão, os Estados Unidos e a Austrália realizaram o seu primeiro exercício em conjunto, no Mar da China Meridional. 


Navios da Austrália, do Japão, das Filipinas e dos Estados Unidos durante um exercício marítimo conjunto no Mar da China Meridional Fonte: Australian Gov.

Posto isto, no meio do agravamento das tensões no Mar da China Meridional entre a China e as Filipinas, deve-se questionar as implicações desta aliança trilateral para a segurança da região e como outros países do Sudeste Asiático poderão reagir à mesma. Poderá esta nova aliança ser um precursor para a criação de uma NATO Ásia-Pacífico?

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