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Filipinas e China, uma relação esquecida

Atualizado: 28 de abr. de 2024

Separados por apenas 600 milhas, as relações entre os dois países remonta a mais de 3000 anos atrás quando as ilhas filipinas davam presentes em forma de tributo á corte imperial chinesa. Neste artigo irei abordar a forma como a relação destes dois países foi mudando recentemente, desde a altura em que ambos eram próximos (anos 60/70) até aos dias de hoje, onde é cada vez mais presente a animosidade e a disputa entre os dois.


Oficialmente, e segundo a embaixada das Filipinas em Beijing, as relações diplomáticas entre os dois países começam a 9 de junho de 1975. Nessa altura, a China decide tomar uma posição mais amigável para o então presidente filipino Ferdinand Marcos, abandonando a ideia de exportar a revolução comunista para as ilhas filipinas. Durante os 20 anos seguintes (de 75 a 95) as relações entre ambos podem ser consideradas cordiais a nível político. No entanto, ouve alguns tempos periódicos de tensão; sobretudo em duas questões: a disputa territorial no mar da China Meridional e a questão de Taiwan. Para as Filipinas, a China manteve presente as suas pretensões expansionistas nestas áreas, especialmente no mar Meridional da China, o que infringia a zona económica exclusiva filipina da área. Na questão de Taiwan, as Filipinas têm um papel importante, apesar de muitas vezes esquecido, nesta questão. Não só devido á proximidade geográfica, mas também porque Taiwan poderia ser um valioso parceiro comercial. Mas, neste período, as Filipinas mantiveram uma política de relações “não-oficiais” com Taiwan; com medo de uma possível retaliação chinesa e percebendo que no longo prazo não valia a pena antagonizar Beijing.


Com o final da guerra fria, e a ascensão económica e militar da China; esta começou a promover uma doutrina estratégica que se focava no controlo de território e de recursos marítimos. Isto colidiu com o aumento de operações militares chinesas no mar Meridional da China, resultando na ocupação em 1995 da “Mischief Reef”, uma pequena ilha antes reivindicada pelas Filipinas. Contudo, foi acordado bilateralmente que esta ocupação não iria afetar o normal desenvolvimento das relações dos dois países, e que, qualquer disputa seria resolvida de uma forma amigável. É importante relembrar que, durante esta altura, os Estados Unidos tinham uma posição ambígua quanto á defesa das Filipinas (apesar da existência de um tratado de mútua defesa).


Mais recentemente, em 2012, a China continuou a sua política expansionista anexando novas ilhas no mar meridiano. Apesar das Filipinas terem contestado esta agressão em tribunais internacionais e os mesmos terem dado razão ao governo filipino, a China contínua convicta em perseguir os seus objetivos na área. Segundo esta, a China é, segundo o mapa Chinês (“9 dash line map”, na altura, atualmente as pretensões territoriais chinesas regem-se pela “10 dash line map”, uma versão atualizada e mais ambiciosa do que a anterior), a legítima dona de grande parte do mar meridiano chinês, indo contra toda a legislação internacional, e violando a zona económica exclusiva filipina. É importante de relembrar que, neste período, as Filipinas eram chefiadas por Rodrigo Duterte, que continuou a estratégia de apaziguamento anterior, em detrimento dos interesses do seu próprio país.



Em 2022, ascende ao poder Marcos Jr. (filho de Ferdinand Marcos, outro ex-governante filipino já referido), marcando uma mudança na política externa filipina. Este quebrou com a estratégia de apaziguamento á China, referindo que só o interesse nacional irá ditar a sua política externa. Marcos Jr. reviveu as relações com os Estados Unidos, com o reforço da presença militar americana na zona, através do “Enhanced Defense Cooperation Agreement”; documento assinado em 2014 e que ganhou maior relevância em 2023, com o anúncio da construção de novas bases militares americanas em solo filipino.


As Filipinas encontram-se, mais do que nunca, no meio de uma das maiores disputas a nível mundial: a ilha de Taiwan. A China reforçou o seu objetivo de “resolver a questão” até 2049, mas com esta mudança diplomática tão perto das suas próprias fronteiras, juntamente com outros inimigos na área (Japão e Austrália, por exemplo) poderá ter de alterar a meta.


Devido, em parte mas não só, á sua localização geográfica e estratégica, as Filipinas podem vir a ter um papel fundamental nesta questão; papel cuja importância é muitas vezes esquecida. Daí que, esta nova aproximação aos Estados Unidos pode vir a marcar uma nova era na região, de maior instabilidade, mas também de rejuvenescimento da influência americana no mar meridiano chinês. Juntando isto, ao facto de a população filipina estar em crescimento juntamente com a sua economia (em ambos os casos, ao contrário da situação Chinesa) implica que num futuro próximo, as Filipinas tenham uma voz importante em questões de segurança regional e (no caso de Taiwan) mundial.

 
 
 

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