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Entre o Leão e o Dragão: Uma Jornada pelas Relações Angola-China

Foto do escritor: Jéssica FerreiraJéssica Ferreira

Relações Políticas e Diplomáticas

 

As relações sino-angolanas remontam até à época conflituosa da guerra colonial, com o apoio chinês aos três principais movimentos de libertação do angolana: o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) e a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA). No final do século XX, as relações internacionais eram definidas pela cortina da Guerra Fria.

 

No final da guerra colonial, a China recusou-se a reconhecer a independência de Angola, atrasando o desabrochar das relações diplomáticas entre Pequim e Luanda, acabando por serem estabelecidas apenas mais tarde, em 1983. 

 

Após o fim da guerra civil angolana, em 2002, a relação entre os países transitou rapidamente de uma relação baseada principalmente em matérias relacionadas com a defesa e segurança, para uma relação de cooperação económica e financeira.

 

          Bandeira da China e Angola

         Fonte: Further Africa, 2023.

 

Atualmente, a China mantém uma embaixada em Luanda e, de igual modo, Angola mantém a sua embaixada na capital chinesa, desde 1993.

 

 

Cooperação Financeira

 

O primeiro acordo comercial entre os dois países foi assinado em 1984 e, desde a década de 90, as relações entre Angola e a China têm vindo a progredir gradualmente.

 Angola tornou-se o segundo maior parceiro comercial da China em África (seguida da África do Sul), no final da década de 90, posição que mantém até hoje. As relações sino-angolanas têm-se tornado cada vez mais robustas desde a criação do Fórum de Cooperação China-África (FOCAC), em 2000. A China é atualmente o principal parceiro comercial do país africano, com uma quota de 14.3%.

 

     Um dos pilares da influência chinesa no estrangeiro e da sua política externa passa pela sua Iniciativa multimilionária: "Uma Faixa, Uma Rota, da qual Angola faz parte desde 2018. Criada oficialmente em 2013, pelo Presidente Xi Jinping, a Iniciativa tem como objetivo a construção de uma rede de infraestruturas no estrangeiro, com o intuito de simplificar e otimizar rotas comerciais e de estabelecer relações entre a China e o resto do mundo. Desde então, o projeto tem vindo a crescer substancialmente e engloba hoje vários países, formando uma rede intercontinental que atravessa a Ásia, a Europa, a África, até à América Latina.

 

      Mapa dos participantes oficiais na Iniciativa, por ano de adesão

                     Fonte: Council on Foreign Relations.

 

     A compreensão do caráter das relações económicas entre a China e Angola, recai sobre a análise dos recursos comerciais e naturais que Angola dispõe.


     Angola é o segundo maior exportador de petróleo no continente Africano, produzindo 1.1 milhões de barris por dia, com a China, o maior consumidor de petróleo do mundo, a importar cerca de 54% desse montante, tornando o gigante asiático num dos principais parceiros comerciais de Angola.


     Em 2004, foi formalizado o primeiro contrato de empréstimo entre os países, com a criação de uma linha de crédito garantida pelo petróleo. Este acordo ficou conhecido como “Angola Model”, pois assinalou um novo modelo de financiamento no âmbito do desenvolvimento económico, em que os países beneficiários alavancam os seus recursos naturais para assegurar a concessão de crédito de fontes internacionais.


     No entanto, para além do fornecimento de barris de petróleo, o empréstimo foi acompanhado de outras condições, como a concessão de 70% da construção e da engenharia civil em Angola a empresas chinesas.


     Em 2023, a dívida contraída junto da China foi de 16.3 mil milhões de euros, o que representa 36% do total da dívida externa angola. No entanto, este valor tem registado ligeiras quebras nos últimos anos e tem caído a um ritmo mais acelerado, alcançando o valor mais baixo por amortizar desde o início de 2016. Por outro lado, a dívida com os Estados Unidos da América (EUA) tem estado a crescer nos últimos anos e alcançou agora o valor mais alto desde o início da série estatística, 3.7 mil milhões de dólares.


     Não obstante, a relação bilateral, alicerçada no “Angola Model”, levanta algumas questões relativamente à subsequente dependência angolana dos investimentos chineses. Estará o país a beneficiar dos mesmos?


     Alguns analistas defendem que a China tem contribuído favoravelmente para o desenvolvimento da indústria transformadora e sublinham o papel do país asiático na criação do mercado interno e no desenvolvimento económico geral de Angola.


     Por outro lado, outros consideram que esta ligação comercial impede o processo de industrialização em Angola. Um fator crucial a realçar passa pela contratação exclusiva de trabalhadores chineses pelas empresas de construção, não contribuindo para a criação de emprego para a população no país.


     A visita de Anthony Blinken, o secretário de Estado dos Estados Unidos, a Angola, em janeiro de 2024, com o objetivo de discutir a construção de um corredor ferroviário que irá canalizar cobalto, cobre e outros minerais, põe em causa as relações sino-angolanas e assinala a aproximação do país africano aos EUA.


     No entanto, a viagem oficial em maio de 2024, do Presidente João Lourenço ao gigante asiático, que decorreu num contexto de concorrência global entre os EUA e a China, poderá consolidar as relações económicas bilaterais entre ambos, materializada em novos acordos.


     Angola depara-se com uma corrida extremamente competitiva aos seus recursos, por duas das maiores potências mundiais. Face a isto, que decisões irá tomar?

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