Washington alega desejar manter a paz e a estabilidade no Estreito de Taiwan, tendo pedido tanto à República Popular da China (RPC) como a Taiwan que mantivessem o status quo, porém os Estados Unidos da América (EUA) vendem armamento a Taipei e, em 2023, chegaram até a aprovar uma transferência de $80 milhões a Taiwan para financiar a compra de equipamento militar. Deste modo a relação dos Estados Unidos com Taiwan caracteriza-se pela ambiguidade estratégica da política externa norte-americana que foi criada por via do Taiwan Relations Act (TRA). Este acordo estabelece um equilíbrio entre conceder apoio a Taiwan e, simultaneamente prevenir uma guerra com a República Popular da China, não sendo propositadamente claro se Washington defenderia ou não Taiwan em caso de ataque por parte da RPC.
Fonte da imagem: U.S. hypocrisy on Taiwan issue in: https://news.cgtn.com/news/2021-08-07/U-S-hypocrisy-on-Taiwan-issue-12vuf6OnHxK/index.html
Em 1979, os Estados Unidos da América findaram as relações diplomáticas que detinham com Taiwan de modo a estabelecer relações diplomáticas com a República Popular da China e, desde esse período que os Estados Unidos da América mantêm uma relação robusta porém não-oficial com Taiwan, sendo que a ilha é inclusivamente um parceiro-chave de Washington em termos económicos, na região Indo-Pacífica. Taiwan localiza-se na região com maior importância económica do mundo, no Oeste do Pacífico, dito isto a importância da ilha para os Estados Unidos da América tem que ver com o facto de que se esta estiver sob o controlo da RPC, não seria possível manter um equilíbrio de poderes na região Indo-Pacífica, pois registar-se-ia uma inequívoca dominância por parte da RPC, no entanto tendo em linha de conta que Taiwan é governado de forma independente face à RPC acaba por existir um maior equilíbrio entre a RPC e os Estados Unidos da América, na região. Além de que para os Estados Unidos da América, Taiwan é um ponto de acesso para a ‘Primeira Cadeia de Ilhas’ e tem considerável importância para a economia norte-americana pois permite o acesso ao comércio e oportunidades de negócio na Ásia.
Washington reconhece a unidade nacional da RPC e até já declarou que não apoia a independência de Taiwan, porém os Estados Unidos da América comprometeram-se a assegurar a Taipei equipamento de defesa na quantidade que for necessária para garantir a capacidade de autodefesa da ilha. Os EUA advogam por Taiwan devido aos valores comuns que ambos partilham, mas também por terem interesses económicos e políticos. Isto leva o país norte-americano a apoiar a pertença de Taiwan em organizações internacionais em que não exista o requisito de ter de se ser um Estado, como a Organização Mundial do Comércio.
Os Estados Unidos da América veem na possível anexação não-pacífica de Taiwan por parte da RPC uma ameaça à segurança na zona do Pacifico Ocidental, e consideram este assunto do interesse internacional daí advém que conste no TRA que Washington irá fornecer armamento de caráter defensivo à ilha de modo a que a segurança e economia de Taiwan não seja posta em causa caso a RPC recorra à força.
No caso de a anexação não-pacífica de Taiwan ser bem-sucedida, os aliados dos EUA iriam perder substancialmente a confiança depositada no país norte-americano e, poderiam aliar-se à RPC por perceberem que não é vantajoso estarem contra a mesma, podendo acontecer o mesmo com a maioria dos países asiáticos. Assim, a RPC apresentaria uma clara hegemonia na Ásia, que em última análise faria com que tivesse um certo domínio e centralidade sobre a economia mundial pois mais de 50% do PIB mundial é proveniente da Ásia.
Além das questões económicas, a anexação de Taiwan teria também um simbolismo muito particular, isto porque a ilha é uma das poucas democracias asiáticas bem-sucedidas e uma anexação por parte da RPC pressuporia a extinção do regime democrático de Taiwan, o que iria corroborar uma vez mais a ideia de que países autoritários “vencem” as democracias. Sendo também por isso benéfico para Washington apoiar uma democracia isolada na região.
Apesar de o TRA ter criado a ambiguidade estratégica norte-americana face a Taiwan, não sendo claro se os Estados Unidos da América defenderiam ou não a ilha na iminência de esta ser atacada pela RPC, o Presidente Biden no decorrer do seu mandato afirmou que defenderia Taiwan. Esta afirmação coloca totalmente em causa a estratégia adotada até então. Embora alguns membros da Casa Branca já tenham vindo a público reforçar que a política externa norte-americana não havia mudado, na prática, num país com um sistema de governo presidencialista, quem tem a última palavra a dizer é o próprio Presidente e não quem da sua administração faz parte, não podendo estas declarações de Biden ser ignoradas.
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