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China e Taiwan: o início do fim do pacifismo na reunificação

Foto do escritor: Ana Carolina LopesAna Carolina Lopes

As recentes ações por parte do governo chinês, após as eleições taiwanesas terem resultado na eleição de um candidato pró-independência, têm vindo a provocar um aumento de tensões e de troca de declarações entre Pequim e Taipei.


Fonte: Patrick Blower


Para compreender melhor este confronto entre a República Popular da China (RPC) e Taiwan, é necessário recuar até 1949, após a Guerra Civil Chinesa, quando os nacionalistas derrotados fugiram para Taiwan, onde governaram independentes da RPC. Desde então, há uma disputa pela ilha entre a RPC, que reclama a soberania sobre o território insular de modo a concretizar a reunificação chinesa, e os taiwaneses que reclamam a sua independência de Pequim. Os constantes exercícios militares chineses nas proximidades de Taiwan dão sinal do crescente desejo chinês na reunificação dos territórios. No entanto, o interesse da RPC por Taiwan não está somente relacionado com a reunificação e o orgulho nacionalista chinês, uma vez que há também interesses económicos relacionados com o forte domínio de Taiwan sobre a produção mundial de microchips, um importante componente para a indústria eletrónica.


Além dos exercícios militares chineses, a RPC tem dado outros sinais que demonstram que a mesma poderá estar a avançar na direção da efetivação da reunificação chinesa. Mais recentemente, dia 5 de março de 2024, na abertura da segunda sessão da Assembleia Popular Nacional, o órgão legislativo da RPC, o Primeiro-Ministro chinês Li Qiang declarou que o país se vai insurgir contra “quaisquer atividades secessionistas que visem a independência de Taiwan”.  Ainda nesta sessão da Assembleia Popular Nacional, foi anunciado um aumento de 7,2% do orçamento da Defesa, que irá perfazer um total de mais de 213 mil milhões de euros. Além disto, num relatório apresentado neste evento político, foi retirada a palavra “pacífica” dos planos de reunificação chinesa. Este pormenor simbólico somado aos sucessivos aumentos do orçamento da Defesa da RPC e aos exercícios militares que o exército chinês realiza em torno da ilha fazem antever que, num futuro próximo, a RPC recorra à força para concretizar o seu desejo de reunificar o território.


A reação de Taiwan às declarações do Primeiro-Ministro chinês adveio do porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Jeff Liu, que afirma que a República da China (nome oficial de Taiwan) é um país “soberano e independente” e que não está subordinado à RPC. O porta-voz Jeff Liu ressalvou, ainda, que Taiwan nunca foi governado pela RPC, fundada a 1 de outubro de 1949, por Mao Zedong e que, por isso, a governação da ilha manter-se-á independente de Pequim independentemente das declarações feitas pelos representantes chineses.


É de salientar que, em janeiro de 2024, ocorreram em Taiwan as eleições presidenciais com três candidatos na disputa pelo cargo de Presidente, sendo um deles antissistema, outro pró-independência e o terceiro um defensor de uma aproximação da ilha a Pequim. Estas eleições resultaram na eleição de William Lai Ching-te, o candidato pró-independentista considerado pela RPC como um perigo devido às suas convicções de índole independentista. Após a eleição deste candidato pró-independência, o Ministro dos Negócios Estrangeiros chinês Wang Yi reagiu afirmando que qualquer atividade que tenha em vista a independência de Taiwan e a consequente divisão da China seria “severamente punida”. Ainda na sequência das eleições taiwanesas, a RPC afirmou que o resultado das eleições não iria “impedir a tendência inevitável de reunificação com a China”. As posições do novo Presidente de Taiwan e do executivo chinês são, portanto, incompatíveis e esta eleição veio aumentar ainda mais as tensões entre os dois países.


Estes últimos acontecimentos no continente asiático têm provocado um aumento da preocupação da comunidade internacional e induzem o Comandante do Indo-Pacífico dos Estados Unidos da América John Aquilino a crer que poderá eclodir um conflito armado, pois dia 20 de março, o mesmo afirmou que acredita que a RPC estará pronta para invadir Taiwan daqui a três anos, em 2027, algo que pode ser evidenciado pelas simulações de operações que o exército chinês realiza há anos em volta da ilha.


Posto isto, estaremos realmente perante o início do fim do pacifismo na reunificação chinesa?

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