“A extrema direita está a mudar dramaticamente a paisagem política na Europa”. Esta é a opinião de antigo secretário-geral do Parlamento Europeu, Klaus Welle, quando confrontado com a ascensão de partidos de extrema-direita na União Europeia, uma tendência que tem sido objeto de intenso debate e análise nos últimos anos.
Embora as razões para o aumento do apoio à extrema-direita variem da interpretação e da perspetiva política de quem está a fazer a análise, este é sem dúvida um movimento crescente no continente europeu. A poucos meses das eleições europeias, as sondagens do Europe Elects prevêem fortes resultados para a extrema-direita, que poderá subir a segunda força política no Parlamento Europeu.
A ascensão da extrema direita na Europa é um fenómeno complexo e multifacetado, impulsionado por uma combinação de fatores económicos, sociais, políticos e culturais. Assim, diante do atual cenário, é essencial perceber quais são os fatores que contribuem para a escolha dos cidadãos nestas forças políticas.
(Fonte Imagem: EuroNews)
As crises económicas em muitos países europeus contribuíram para o aumento do desemprego, a estagnação dos salários e para o aumento da desigualdade económica, o que não só gerou descontentamento entre os eleitores, mas também alimentou o sentimento anti-establishment, muitas vezes explorado pela extrema-direita partidária. Outro fator que impulsiona a sua ascensão na Europa é a crise migratória frequentemente sentida, levando a que os partidos políticos promovam uma agenda nacionalista e anti-imigração. Outras questões relacionadas à integração cultural, segurança e identidade nacional podem levar os eleitores a apoiar a extrema-direita. Estes partidos muitas vezes adotam uma retórica populista que apela às emoções e preocupações dos eleitores.
A globalização e a integração europeia levaram a mudanças significativas nas economias e sociedade europeia. Algumas pessoas interpretam estas mudanças como ameaças à sua identidade, cultura e empregos, contribuindo igualmente para o apoio à extrema direita. A desilusão generalizada com os partidos políticos tradicionais e a percepção de que eles não conseguem resolver questões importantes levam também os eleitores a procurar diversas alternativas.
Assim, nas eleições para o Parlamento Europeu de 2024 possivelmente assistiremos a uma grande viragem à direita em muitos países, com os partidos populistas da direita radical a ganharem votos e eleitos em toda a União Europeia. Segundo estudo do ECFR, “A sharp right turn: A forecast for the 2024 European Parliament Elections”, é provável que os populistas antieuropeus estejam no topo das sondagens em nove estados-membros sendo estes Áustria, Bélgica, República Checa, França, Hungria, Itália, Países Baixos, Polónia e Eslováquia e, em segundo ou terceiro lugar em outros nove países, Bulgária, Estónia, Finlândia, Alemanha, Letónia, Portugal, Roménia, Espanha e Suécia.
(Fonte Imagem: Renascença)
Depois de anos de avanços sociais na Europa observa-se, que os partidos da direita moderada e da direita radical, denominados conservadores, populistas ou nacionalistas, têm conquistado o apoio do eleitorado. Assistimos, portanto, a um momento de reação conservadora, muitas vezes capitalizando os efeitos das diversas crises financeiras, humanitárias, climáticas e sanitárias. Assim, muitos defendem que a União Europeia pode tornar-se ingovernável se a extrema-direita tiver um bom desempenho nas próximas eleições para o Parlamento Europeu.
Por fim, é essencial destacar que a democracia está a viver uma prova de fogo cujas consequências poderão ser devastadoras. De facto, esta possível viragem à direita terá consequências significativas para as políticas a nível europeu, o que afetará as escolhas de política externa que a União Europeia pode fazer no futuro.
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