O confronto eleitoral de 2020 entre Joe Biden e Donald Trump pode ser repetido no final do ano de 2024. As eleições presidenciais norte-americanas colocam em situação de risco vários atuais e futuros apoios. A guerra na Ucrânia, que teve o seu início a 24 de fevereiro de 2022, é um desses cenários. A vitória de Joe Biden irá dar continuidade aos apoios ao país europeu porém, uma vitória de Donald Trump pode significar a diminuição (ou mesmo a extinção) destes apoios.
A 5 de novembro de 2024, os norte americanos serão chamados às urnas para votar num novo presidente. Os dois grandes partidos já escolheram os seus candidatos (Joe Biden e Donald Trump) o que irá repetir uma eleição passada – que terminou com a derrota do Republicano Donald Trump. Contudo, as eleições de 2020 não possuíam tanta importância para a política internacional como possui agora. Com a invasão russa da Ucrânia, a vitória de um dos candidatos pode muito bem mudar toda a realidade deste conflito.
Joe Biden, atual presidente dos Estados Unidos e candidato pelo Partido Democrata, tem demonstrado o seu apoio à Ucrânia através de várias ajudas financeiras. A 12 de dezembro de 2023, Biden anunciou um novo pacote de ajuda ao antigo país soviético e afirmou que “não quer que os ucranianos se rendam”. O pacote de 200 milhões de dólares(aproximadamente 185 milhões de euros) servirá, na sua maioria, para ajuda militar.
Contudo, esta ajuda financeira e militar proveniente dos Estados Unidos pode ser travada ou abrandada com a reeleição do atual presidente. O representante da maioria republicana na Câmara dos Representantes, Mike Johnson, alertou no dia 22 de janeiro que qualquer votação sobre novos pacotes de ajuda ao país em guerra estará condenada ao insucesso.
Do outro lado do espectro político, estamos perante um candidato republicano que tem sido bastante crítico da ajuda providenciada pelos Estados Unidos à Ucrânia. Donald Trump, durante a sua campanha eleitoral, tem afirmado que defender a Ucrânia não é “vital” para os Estados Unidos. Para além disto, vários especialistas militares afirmam que a grande esperança de Vladimir Putin para o fim das ajudas militares e financeiras à Ucrânia é a eleição de Donald Trump como presidente norte-americano.
Para além da ajuda financeira e militar proveniente dos Estados Unidos, não podemos esquecer que a NATO é, muitas vezes, liderada por este país. Joe Biden tem demonstrado o seu apoio à Organização da Aliança do Atlântico Norte e a possibilidade de “revigorar” as principais alianças dos Estados Unidos.
Pelo contrário, Donald Trump, durante o seu mandato presidencial (2016 – 2020) e na sua campanha eleitoral, tem-se mostrado contra a Aliança militar de 32 países. A ideia de uma potencial saída da organização provou ser assustadora, o que levou o Congresso norte-americano a alterar a constituição e introduzir uma lei que impede que qualquer presidente retire o país da NATO sem a aprovação do Senado ou de um ato vindo do Congresso. Mesmo sem a saída da organização, é esperado que Donald Trump tente negligenciar e prejudicar a aliança de forma a que a cooperação bilateral e transnacional seja beneficiada.
A diferença na abordagem a esta guerra por parte destes dois candidatos é notória. A Administração Biden afirmou, logo no início da ofensiva russa à Ucrânia que iria apoiar o país agredido “pelo tempo que for necessário”. Para além disto, em agosto de 2021 – ainda antes da invasão de fevereiro de 2022 – os Estados Unidos anunciaram 53 pacotes de assistência ao país. Donald Trump, por outro lado, e como já mencionado, acabaria com a assistência ao país e chegou mesmo a afirmar que iria encontrar uma solução para o conflito “num dia”. Atacou, também, o seu adversário ao afirmar que este coloca a Ucrânia à frente do próprio país. Ataques e ameaças de acabar com a guerra “num dia” ao forçar a Ucrânia a abdicar parte do território – nomeadamente a Crimeia e a Região do Donbass – para o agressor preocupa os aliados, com especialistas de política externa a afirmar que estas ações iriam beneficiar e agradar Vladimir Putin.
No dia 20 de abril de 2024 foi a anunciado que, após vários meses de impasse, os Estados Unidos iriam fornecer uma ajuda de 61 mil milhões de dólares (56 mil milhões de euros) ao país agredido. Este tipo de ajuda é, contudo, diferente das outras que têm sido votadas. Esta é feita em título de empréstimo, ainda que seja admitido um perdão desta dívida. Mesmo com um acordo bipartidário conseguido pelo Presidente da Câmara dos Representantes, 112 republicanos votaram contra esta ação (de notar que a juntar aos 210 democratas, 101 republicanos votaram favoravelmente).
As eleições norte americanas podem representar um ponto de viragem importante na guerra na Ucrânia. Joe Biden, sendo reeleito, pode garantir mais ajuda militar e financeira ao país contudo, a maioria republicana na Câmara dos Representantes pode compor-se como um obstáculo. Por outro lado, ganhando Donald Trump, este pode cortar, de forma súbita, o apoio à Ucrânia podendo dar-se o agravamento da guerra por falta de defesas ucranianas no terreno.
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