O conceito do BRICS forma as suas raízes no ano de 2001, quando o economista Jim O’Neill, propõe o termo 'BRIC' para representar uma união das nações emergentes – Brasil, Rússia, Índia e China – que pareciam dispor de capacidades para desafiar o poder económico do Ocidente. Num segundo momento, deu-se a inclusão da África do Sul, adicionando o 's' ao acrónimo BRICS.
Embora seja um grupo fortemente heterogéneo, este tem-se mostrado relevante na cena mundial, o que se refletiu no seu alargamento oficializado pela 15ª cúpula do BRICS em agosto de 2023, efetivo a partir de 1 de janeiro de 2024. Passam então a integrar o grupo: o Egito, Etiópia, Irão, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. Em consequência, o BRICS representa quase 25% do PIB e cerca de 40% da população mundial.
Um dos principais objetivos na Agenda do BRICS é a redução da dependência dos seus países membros em relação ao dólar americano. O grupo pretende promover o uso das moedas locais em transações bilaterais e internacionais para reduzir a preponderância do dólar nas transações comerciais e financeiras. Como estratégia adotada para tal, está a criação do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), o chamado “Banco dos BRICS”, que estimula o uso de moedas locais nos empréstimos, permitindo que os mutuários evitem o risco cambial e as variações das taxas de juros americanas, solução proposta pela diretora do banco, Dilma Rouseff.
Contudo, a instabilidade subjacente ao alargamento levanta ressalvas na comunidade internacional. Apesar de haver concordância entre a agenda económica dos BRICS e dos seis novos integrantes, já foram apontados alguns entraves ao êxito e à continuidade do bloco: a instabilidade política e económica a nível interno, discordâncias geopolíticas, e falta de consenso sobre a reformulação do Conselho de Segurança da ONU. O seu crescimento também se vê desafiado devido à redução do investimento estrangeiro e à desaceleração económica na China.
Com recurso aos dados fornecidos pelo Democracy Index 2023, a tabela mostra que junto à China e à Rússia, os novos membros aparecem no limiar do ranking, e já foram condenados, na sua totalidade, por violações de garantias básicas. Na Arábia Saudita, são proibidas eleições ou organizações de caráter político, e no Irão, prevalece uma república islâmica unitária presidencial, no qual o chefe de Estado detém autoridade máxima religiosa e política no país. Tais países obtiveram, respetivamente, 2.08 e 1.96 de pontuação no Democracy Index 2023, valores correspondentes a regimes autoritários.
A Etiópia, por sua vez, tem passado por crises constantes, especialmente devido à guerra civil que teve fim em 2022, deixando severas consequências para a população nacional. Assim, dentre os 10 membros do BRICS, apenas a Índia, África do Sul, e Brasil não estão categorizados como autoritários no Índice de Democracia. Como agravante, o país enfrenta conflitos com o Egito, especialmente devido à partilha das águas do Rio Nilo.
Ainda que seja crucial analisar o impacto económico – sobretudo positivo – da expansão para a ordem financeira mundial, é igualmente relevante a compreensão do que está em causa desde uma ótica geopolítica. A expansão e o consequente fortalecimento do BRICS representam uma mudança na cena mundial: os Estados Unidos da América perdem o seu protagonismo prevalecente desde 1945, deixando de estar no cerne da criação de normas e direção das instituições.
Num futuro próximo, os BRICS, com o apoio do NDB, podem conquistar uma posição de influência no sistema internacional. O grupo revela-se um mecanismo geopolítico e económico essencial nesta atual fase de transição, na qual o protagonismo americano e europeu começa a entrar em declínio. A existência de um novo fornecedor de crédito abre oportunidades para muitos países e os torna cada vez mais independentes das instituições financeiras ocidentais.
Ao romper com as imposições ocidentais, o BRICS traz como alternativa uma ordem mundial multipolar, e são notórios os esforços do grupo para a rutura com a hegemonia ocidental. Todavia, ao originar uma combinação de autocracias poderosas e democracias emergentes, o novo alargamento provoca incertezas acerca do seu potencial desenvolvimento.
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