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Africa Corps: A Nova Era da Influência Russa no Berço da Humanidade

Foto do escritor: Diogo MendesDiogo Mendes


A Rússia sempre deteve um interesse particular em realizar operações no continente africano, e até à morte de Yevgeny Prigozhin, as operações eram coordenadas pelo grupo paramilitar russo Wagner, ao qual respondia e detinha uma relação íntima com o Kremlin.

Decerto é que a política externa se constitui de complexidade e não ocorre de um modo isolado. Assim, em análise preliminar à resposta de Vladimir Putin sobre o acidente de avião do líder dos Wagner, entende-se que, previsivelmente, e na linha de consolidação do poder, as ações e palavras são utilizadas para influenciar, e neste caso, indigitar, uma ideia de que ocorrera um episódio acidental, são, por isso, apenas apresentadas as condolências ao seu conhecido de três décadas e à família, sem menção ao acidente alegadamente encomendado pelo próprio.


Esta dinâmica interna é fulcral para entender a visão estratégia de Putin para as suas operações em África, observa-se, agora, uma complexa reestruturação dos objetivos das operações sobre alçada direta do ministério da defesa russa, ao que emerge, portanto, uma oportunidade deste governo em prosseguir os seus interesses e consolidar a sua influência fora do território russo, ao que emerge o Africa Corps.


Esta oportunidade edificou um fenómeno de agency pelo Kremlin concretamente na área do Sahel. O novo grupo Africa Corps permanece patente no discurso e narrativa russa, ao qual afirma ser o único que, prontamente, realiza esforços no combate ao terrorismo e separatismo na região.


Por conseguinte, a nova força operacional russa possui objetivos claros, proteção dos regimes que possuem convergência de interesses com o Kremlin. Apesar da narrativa de combate contra o terrorismo na região, a missão principal passa por seguir o Regime Survival Package, ou seja, o serviço de exportação de segurança para estes governos se consolidarem, e permanecerem, no poder, para, assim, edificar a sua influência nos países em questão.


Já o benefício que estes países oferecem à Rússia são, sucintamente, explícitos. O governo russo aliou a oportunidade de fundar um projeto estatal formal à a expansão económica dos países da região, que careciam de proteção, e assim, eventualmente, obter acesso a recursos naturais que minimizam o impacto das sanções ocidentais na economia russa. Ao passo que os países do Sahel podem, também, exercer o seu exercício de voto na Organização das Nações Unidas a favor das posições russas.


Assim, a dinâmica interna dos Estados locais, Burkina Faso, Líbia e Mali, entram também em jogo, na medida em que os governos que se estabilizam no poder utilizam argumentos que, por um lado defendem a soberania dos mesmos, e por outro, declaram um sentimento antifrancês nas antigas colónias, exemplo mais evidente é Ibrahin Traoré, presidente do Burkina Faso, que apresentou duras críticas ao terrorismo e neocolonialismo que ameaçaram, severamente, a soberania do país, ao passo que declarou a sua vontade em consolidar as relações com a Rússia.


Por conseguinte, a conclusão do fenómeno de agency conflui-se na mudança de resposta destes Estados em relação ao serviço de exportação de segurança russa. Os seus líderes verificavam, na empresa de Prigozhin, uma vertente comercial mais agressiva em relação aos recursos que os países em causa lhes poderiam proporcionar em troca da segurança. A mudança de paradigma para um projeto estatal oficial sob alçada do próprio governo russo, propiciou uma convergência de objetivos, juntamente com a recetividade à atuação do Africa Corps nos territórios, ao que resta a consolidação das relações bilaterais entre o Kremlin e a região do Sahel.


Na linha de oposição de Putin ao ocidente, as suas operações em África oferecem, também, uma posição de vantagem estratégica em relação aos seus inimigos, mesmo com a minimização do impacto das sanções, e também, com o acesso a recursos fundamentais, a Rússia tem o poder de assolar a Europa de migração, agravando o seu problema, ao passo que os valores doutrinados pela Rússia na região propiciam o acesso a comunidades relacionadas com doutrinas religiosas extremistas.


Posto isto, a Rússia permanece, agora, como bastião defensor da estabilidade dos Estados na região, ao que, juntamente com o apoio institucional, afirma-se com a sua expansão de bases militares estratégicas nas rotas de migração da região do Sahel, de modo a consumar a instrumentalização deste método contra o ocidente.


Por fim, o Africa Corps em substituição à grande empresa de Prigozhin, tem tomado uma lacuna estrutural na região do Sahel, a turbulência que tem ocorrido junto da instabilidade dos regimes, ofereceu à Rússia uma oportunidade no curto prazo em expandir as suas operações em situações de benefício mútuo. Ao passo que o jogo geopolítico russo futuro, na linha da expansão do poder dos tentáculos russos, vai para além da região do Sahel, e até África, em que é pautada pela expansão internacional destes serviços de segurança a países onde não se encontram em estabilidade e que possam beneficiar e serem beneficiados pelo estado russo.


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