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A União Europeia é o farol mas não o destino: a ação dos timoneiros Rishi Sunak e Giorgia Meloni

Foto do escritor: Leandro CorreiaLeandro Correia


"EU migration crisis". Cartoon: Paresh Nath. Fonte: CagleCartoons.com

Há cerca de uma década que o fenómeno da imigração europeia tem apoquentado o imaginário dos europeus devido à crise migratória de 2015. Dados do Eurobarómetro realizado em 2022 demonstram que a maioria dos cidadãos europeus julgava que a integração dos imigrantes havia sido bem feita na cidade onde viviam, mas não na coletividade do país.  


            Mas que desafios enfrenta a Europa e que políticas têm sido seguidas? O bloco europeu cedo se estabeleceu como um ator defensor do primado da lei e dos direitos humanos. Todavia, a incapacidade da Europa e dos partidos do centro em discutir as políticas de imigração potenciaram o debate, que foi trazido pelos partidos de extrema direita e de direita securitária europeus, obrigando os partidos mainstream a adereçar a questão e normalizando-a no cenário europeu. A complexidade do problema gira em torno do consenso em reforçar as fronteiras externas, na necessidade económica de acolher imigrantes, na dualidade de critérios entre refugiados vindos da Ucrânia ou da África e do Médio Oriente e no extremismo que cresce, evocando um nacionalismo dentro do bloco europeu.  


            Em vários países europeus o fenómeno da imigração tem sido destaque. E tem-se assistido ao crescimento de um sentimento anti-imigração na União Europeia. A perceção de que os imigrantes são uma ameaça porque diminuem os salários e esgotam os empregos é um dos motivos. Adicionalmente, estes são vistos como um peso sobre o Estado Social. Ainda assim, o motivo principal centra-se na matriz cultural e simbólica distinta da europeia, o que reforça naturalmente os nacionalismos.


Observe-se o caso da Polónia, onde um partido populista de direita chegou ao poder em 2015, difundindo uma campanha xenófoba contra os imigrantes e refugiados não europeus. Tanto o governo polaco como a maioria dos cidadãos opõem-se ao “pacto migratório” europeu, tendo aquele introduzido maior controlo nas fronteiras com a Eslováquia. À semelhança da Itália, o governo dinamarquês aprovou uma lei em 2021 que permite aos migrantes serem realocados para asilos em países parceiros, enquanto planeia igualmente dificultar o acesso à cidadania dinamarquesa.


Rishi Sunak e Giorgia Meloni na cimeira da Nato. Foto: Ludovic Marin. Fonte: AFP/Getty Images/The Guardian

Ora o caso de Itália e do Reino Unido devem ser os mais paradigmáticos na União Europeia. Em 2023, a Itália recebeu, no período entre Janeiro e Agosto de 2023 cerca de 115 mil imigrantes, equivalente ao mesmo número recebido em 2016. Para travar este fluxo, a Primeira Ministra italiana, Giorgia Meloni, que fez da imigração o foco da sua campanha, tentou firmar um acordo com a Tunísia, mas que teve pouco efeito. Mas a ação de Meloni não ficou por aqui. Não só esta anunciou que aumentaria o número de centros de detenção, como aumentaria o tempo máximo de detenção de 3 para 18 meses. Adicionalmente, se os imigrantes quisessem circular livremente sem serem detidos, teriam de pagar 4938 euros. Ora, é facto que a política externa italiana quanto aos imigrantes e refugiados está a ficar, no mínimo, mais rigorosa. Além do acordo com a Tunísia, Meloni firmou recentemente um acordo com a Albânia, aprovado pelo tribunal constitucional, para construir dois centros no norte do país para processar os 36 mil indivíduos que tentam chegar à Itália todos os anos, enquanto aguardam pela aprovação do seu asilo.


No caso do Reino Unido, quando o país decidiu sair da União Europeia, através do processo que ficou conhecido como Brexit, o seu objetivo era recuperar o controlo sobre as suas fronteiras e a imigração. Todavia, o nível de imigração aumentou no Reino Unido, contrariando as expectativas. De resto, como nos demais países europeus, os imigrantes exercem as atividades profissionais que os locais, amiúde, não exercem, além de que a sua presença gera mais emprego pela necessidade de serem fornecidos mais serviços. Ora o atual objetivo do Reino Unido, sob a liderança de Rishi Sunak e seguindo as tendências europeias aqui destacadas, é realocar os migrantes e refugiados para Ruanda, na política designada stop the boats. Contudo, a percentagem de refugiados que atraca no Reino Unido corresponde apenas a 5%. Esta medida é o culminar das ideias mais anti-imigração do Reino Unido, onde outro rosto conhecido, Suella Braverman, apela a que se aja sobre a imigração, alegando que “a pressão sobre a habitação, o NHS, as escolas, os salários e a coesão comunitária é insustentável”.


No palco europeu, também Giorgia Meloni e Rishi Sunak andam de mãos dadas. Face às suas tentativas goradas de aproximação com outros líderes europeus, ambos acabaram por se tornar bons aliados, o que reforça a sua aceitação entre os seus pares. Tal é demonstrado pela sua convivência no festival Atreju organizado por Meloni, que contou com a presença de outros líderes de extrema direita europeus e visou discutir precisamente a imigração. Evidentemente, esta aproximação deve-se às políticas e objetivos semelhantes: travar a migração e reforçar a cooperação na área da defesa, alinhando as políticas externas entre países.

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