A 16 de Setembro de 2023, os três países governados por juntas militares na região da Africa Ocidental (Mali, Níger e Burkina Faso), declararam a criação de um pacto de defesa mútua denominado de “L’Alliance des États du Sahel”, ou seja, a aliança dos estados do Sahel (AES). Esta aliança, que até já chegou a ser denominada de “West Africa´s Brexit”, tem marcado o momento da geopolítica da região muito por causa dos seus princípios isolacionistas e separatistas de todas as alianças e tratados de cooperação com o ocidente e com os países africanos fora da região do Sahel, sendo que o rancor destes países contra os seus parceiros regionais e internacionais tem vindo a intensificar bastante a sua isolação diplomática. A 28 de Janeiro de 2024 a aliança elevou o seu pacto a outro nível quando os três líderes da aliança anunciaram simultaneamente na televisão nacional de cada país que iriam retirar os seus países da organização ECOWAS (Economic Community of West African States) com efeito imediato. Esta saída acaba diretamente com décadas de integração regional e afeta as ações do presente e futuro da organização que luta incessantemente contra os movimentos armados que continuam a acontecer na região e os problemas económicos para região que advêm destes movimentos.
Primeiro ministro de Niger, Ali Mahamane Lamine Zeine, primeiro ministro de Burkina Faso Apollinaire Joachim Kyelem de Tambela e o primeiro ministro de Mali Choguel Kokalla Maiga participam num protesto em Niamey, Niger, 29 de Dezembro, 2023.
Esta aliança desde o início que ia contra os princípios da ECOWAS, sendo esta uma organização que defende a democracia e a coesão entre os países da Africa ocidental, e a aliança uma união de três países que tiveram golpes armados desde 2020, começando com Mali em 2020 e 2021 com os golpes liderados pelo Coronel Assimi Goita, em 2022 acontecem os dois golpes que derrubaram o regime na Burkina Faso, e por fim a 26 de julho de 2023 a guarda presidencial de Níger depôs o presidente democraticamente eleito, Mohamed Bazoum.
Apesar de ter acalmado a sua posição posteriormente, a ECOWAS prometeu que se iria envolver militarmente em Mali em resposta ao golpe. Apesar disto colocar os outros países da aliança numa posição difícil por não serem “ricos” em recursos naturais tal como Níger, estes não mostraram fraqueza, e com o passar do tempo ficou claro que as ameaças da ECOWAS para reinstituírem Mohamed Bazoum eram infundadas, sendo que não só os civis se mostraram resistentes a qualquer intervenção militar externa, mas também os países da aliança prometeram prontamente a proteção de Níger contra qualquer ação militar externa. É nesta defesa mútua que se baseia a total confiança entre os três países.
Todas as ações desta aliança contra a influencia externa advém de anos de falta de confiança em governos liderados por civis, impaciência com as políticas de segurança pró-ocidente, e marginalização sociopolítica. Apesar disso temos vindo a ver uma viragem no “bloco” político que influência a região e não um afastamento completo de todos os países externos à aliança. Por um lado, temos a expulsão de todos os militares franceses dos territórios dos três países, e posteriormente o objetivo de conseguir tambem afastar os Estados Unidos, e por outro lado temos a aproximação a diversos países não ocidentais, tais como, a Rússia, a China, e o Irão. Nesta união o claro vencedor é a Russia que já está presente militarmente nos três países da aliança, esta acordou em criar uma cooperação militar com Niger, enviou militares para Burkina Faso para proteger o “Líder militar”, e tem cerca de 1000 militares do grupo Wagner em combate no Mali. Este crescimento da presença russa no território pode vir a tornar-se num “proxy war”, sendo que o perigo da influência russa para o ocidente torna-se cada vez mais real devido, não só às questões militares, mas tambem por causa da vertente económica da aliança e no que o avanço desta pode significar para o futuro do continente e da região.
Soldados Nigerianos na base militar em Niamey após os soldados franceses desocuparem a base durante uma cerimonia formal, Niamey, Níger, 22 Dezembro, 2023
Apesar da imagem de contentamento e até felicidade que os governos militares da aliança tentam passar, a presença russa não tem sido o “mar de rosas” que se apresenta pelos líderes, os mercenários do grupo Wagner não atingiram as expectativas de travar os ataques implacáveis da al Qaeda e do Estado Islâmico, em vez disso, o grupo tem sido acusado de diversas atrocidades contra civis, de terem ajudado no ressurgimento de uma rebelião no norte de Mali, e de terem tomado o controlo da mina de ouro mais lucrativa do Mali.
Após tudo isto verificamos os problemas do costume, quem esta realmente a sofrer é o povo, sendo que neste momento cerca de 70 milhões de cidadãos dos países da aliança, que sempre beneficiaram da livre circulação, do comercio e de oportunidades de negócios na sub-região, neste momento tem um futuro incerto por causa das sanções impostas em resposta aos movimentos revolucionários armados nos países, causando desta forma uma hostilidade contra ECOWAS por parte da população que teve uma redução severa ao acesso económico e social privilegiado. Olhando para dados mais palpáveis, neste momento cerca de metade dos 25 milhões de habitantes de Níger estão em risco de sofrer insegurança alimentar de acordo com o “World Food Program”.
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